Conforme relata Antonio Torres Montenegro (2004), escrevendo sobre o momento anterior a Ditadura Militar, as Ligas Camponesas entram na história do Brasil do século XX como uma nova forma de resistência, visando representar os interesses do homem que trabalha no campo em meio a um momento de efervescência política, causada pelos movimentos sociais no Brasil que tinha o recurso da reivindicação como principal caminho para denunciar a situação que se encontrava a população brasileira.

Para Fernando Antônio Azevedo (1982), que escreve sobre o contexto das Ligas bem com a influência do Partido Comunista Brasileiro, por volta dos anos 1940 há uma luta em prol das estruturações das ligas por parte dos esforços do Partido Comunista vinculando o camponês as causas operárias a fim de formar base política no campo através da ideologia marxista-leninista, que defendia seu engajamento para a revolução, a atuação dos comunistas é tida por muitos como marco para o início das Ligas Camponesas, sendo o viés explicativo mais comum. Contudo, deve-se observar a intenção dos camponeses de defender seus interesses mais do que seu vínculo e identificação com o Partido Comunista.

Para tentar burlar as dificuldades institucionais e jurídicas os Comunistas criaram associações que disfarçavam seus fins sindicais enquanto trabalhadores organizados. Tais dificuldades jurídicas eram utilizada pelos grupos dominantes para desarticular o movimento, essas barreiras institucionais são explicadas por Antonio Torres Montenegro da seguinte forma:

Para iniciar esse estudo tomando como referência as lutas dos trabalhadores rurais, sobretudo as Ligas Camponesas a de se considerar o significado que elas adquirem entre o final da década de 1950 e o início da seguinte. É importante registrar que, embora a sindicalização rural estivesse prevista na consolidação das leis trabalhistas, fosse compatível com os termos da constituição de 1946 e anunciada como meta de diversos governos, era barrada pela pressão do bloco agrário. Ou seja, em todo o Brasil, os trabalhadores rurais se organizavam e encaminhavam ao ministério a carta de sindicalização, mais esta não era autorizada por pressão dos proprietários, por meio da confederação rural brasileira. (MONTENEGRO, 2004, p. 394).

Nos anos 1950 as ligas ressurgem com novas propostas de organização que tinha como característica maior resolver problemas imediatos da vida cotidiana dos trabalhadores rurais, mesmo assim se popularizou a ligação entre as Ligas Camponesas e o Partido Comunista tendo como o massacre ideológico dos setores dominantes da sociedade que intencionavam denegrir o movimento como forma de repressão ideológica. Tal dinâmica manifestou-se na historiografia, porém devemos entender que existem distinções entre as Ligas Camponesas e as concepções comunistas de influência do PCB, embora essa influência não possa ser considerada a mesma.

Entre os anos 1950 e 1960 os movimentos rurais ganham visibilidade nacionalmente falando, na qual além das Ligas Camponesas, podemos observar a união dos lavradores e trabalhadores rurais e o Partido Socialista Brasileiro (PSB), apesar de não podermos falar do PSB como uma estrutura que tenha um âmbito nacional. De 1960 até o golpe de 1964 o Brasil assiste uma abertura política que se manifesta no Campo Jurídico em uma legislação que possibilita a abertura de organizações com fins sindicais na zona rural, no pós-golpe é desencadeando repressões que atingem os movimentos agrários.

Nesse momento observa-se uma maior expressividade do movimento campesino que faz com que esse período seja considerado auge dos movimentos sociais agrários, principalmente no que se refere ao final da década de 1950 e início dos anos 1960, o que contrasta com o declínio dos movimentos atribuído a repressão militar a partir de 1964. Esse trabalho tem como centro de interesse o processo de formação do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, anterior a repressão desencadeada pela Ditadura Militar, focalizando de 1958-1962 como auge das Ligas Camponesas no que refere à organização e institucionalização, mostrando que as Ligas Piauienses tiveram grande importância para sociedade do Piauí bem como para o Nordeste devido a teia de relações que a seguem, onde as Ligas do Piauí merecem seu lugar na história.

Este presente trabalho tem como essência tecer uma análise crítica sobre a Liga Camponesa da cidade de Campo Maior localizada na Fazenda Matinhos, Piauí (entre 1958 a 1962), relacionando-a com o contexto das Ligas no país e no Nordeste de maneira a observar a relação entre a Liga Piauiense e os demais movimentos rurais do país, bem como suas especificidades no contexto de sua região. Analisar as questões agrárias Piauienses, bem como as ideologias e influências que o cercam a partir do caso da Fazenda Matinhos.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O campo

Através da história o homem que habilita e trabalha no campo, via de regra, desenvolveu ideologias de resistências na luta por direitos voltados para o trabalho na terra, uma vez que esse desenvolve uma forte ligação com a terra. Tal fenômeno conduz os indivíduos a unirem-se, de certa forma, com outros indivíduos que participam das mesmas condições cotidianas, aliando valores, costumes, concepções comuns.
Tal dinâmica histórica constrói os grupos sociais, formados por homens e mulheres que conseguem perceber suas situações de maneira reflexiva, e que formam, por conseguinte a classe, que é submetida à exploração pela acumulação latifundiária imperialista, a classe dos trabalhadores rurais tendo sua especificidade de acordo com cada contexto constituído de processos históricos próprios. Logo a classe dos trabalhadores rurais não é homogênea em todos os tempos e espaços, sendo assim entendemos que cada lugar e momento tem suas especificidades.